A criança não entende o porquê de estar ali, poderia estar em casa e se divertir com o banal, mexer numa panela, riscar uma parede, se esconder no guarda-roupa, mas ela foi deixada na creche.
A criança não gostaria de estar ali, poderia estar no quintal, poderia estar perguntando infinitamente coisas ordinárias sobre objetos, bichos e pessoas, poderia ir visitar os avós no fim da tarde, ir ao supermercado e pedir doce, chorar para mudar de canal, rir ao brincar na sala, mas ela foi deixada na creche.
Talvez sua mãe não tenha como se sustentar, talvez seu pai acredite que atividades complementares possam lhe ajudar em um futuro distante e por isso sacrifica o presente. Os pais não entendem o tempo, não percebem que a primeira infância passa como a brisa da madrugada, despercebida.
Logo não há criança nos braços, não há criança na sala, há um adolescente, um jovem adulto que tem como melhores lembranças não as brincadeiras com os pais, ele tem fotos vazias, memórias externas e uma sensação de solidão que não sabe de onde vem.
A geração atual é filha da creche, do professor das horas complementares, ela não tem experiências profundas com nada, com ninguém, tudo é externo, tudo é público, tudo é rápido, tudo vem pronto, tudo é raso.
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